As novidades do ano: Setembro-Novembro

A nossa colheita anual com notas de insolência e aroma a subversão. Para degustar ao longo de 365 dias. Tchim-tchim!

 

FICÇÃO

 

SETEMBRO

OCIOSAS REFLEXÕES DE UM OCIOSO | Jerome K. Jerome
Tradução Paulo Faria

Do autor do famoso livro Três Homens num Barco, a Antígona dá à estampa um conjunto de crónicas, publicado em 1886, que ajudou a consolidar a reputação de Jerome K. Jerome como um dos grandes humoristas ingleses. Dedicados ao fiel cachimbo do escritor, estes textos para procrastinadores ferrenhos desmontam convenções edificadas pelo hábito e paradoxos do quotidiano. Entre divagações irónicas e lampejos de irreverência, o feliz rol de temas abarca a preguiça, a vaidade (essa «verdadeira força motriz da humanidade»), a neura, o estado do tempo e bebés (assunto no qual o autor diz ser mestre, principalmente por «já ter sido um deles»).

 

A GUERRA DAS SALAMANDRAS | Karel Čapek
Tradução do checo Lumir Nahodil

Salamandras oprimidas de todo o mundo, uni-vos!

Tradução directa do checo da obra-prima de Karel Čapek, publicada em 1936, em plena ascensão do nazismo. Uma distopia de fino humor e uma sátira política que rivaliza pelo seu conteúdo visionário com 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Quando, ao largo da ilha de Tana Masa, descobre afáveis salamandras inteligentes, o capitão Jan van Toch está longe de imaginar que elas mudariam o destino da humanidade. Exploradas e escravizadas pelo homem, comidas e espezinhadas, as salamandras em breve se revoltam e reivindicam os seus direitos, aspirando a dominar o mundo.

 

OUTUBRO

O OFÍCIO | Serguei Dovlatov
Tradução do russo Galina Mitrohovitch | Prefácio Júlio Henriques

Sarcástico, proibido e exilado, Serguei Dovlatov é o pai da narrativa russa contemporânea. | Babelia

A sua voz é profundamente autêntica e universal. | Carta de Kurt Vonnegut a Serguei Dovlatov

Dovlatov não é só o escritor mais popular do último quarto de século na Rússia; é também o autor de algumas das melhores páginas que nos deu o século XX. | Guardian

Serguei Dovlatov (1941-1990) sempre foi um escritor em terra estranha. No radar da polícia secreta e impedido de publicar no seu país (ao menos que não lhe tirassem «o direito inalienável ao fracasso», dizia), fixou-se em Tallinn em 1974, onde foi jornalista, e exilou-se em Nova Iorque em 1978. Grande amigo de Joseph Brodsky (que o achava «um autor admirável, sobretudo por ter recusado a tradição trágica da literatura russa»), foi na Grande Maçã que publicou vários livros e, na New Yorker, contos com um humor cáustico e um estilo lacónico. Mestre do cepticismo irónico, soube como ninguém entender a literatura e a vida, como simbiose lúdica, e o absurdo da existência.

O Ofício não é um livro, mas dois: «O Livro Invisível» e «O Jornal Invisível». O primeiro é a crónica das andanças de um certo Dovlatov, que tudo faz para ser publicado no seu país, e um hilariante texto sobre os procedimentos absurdos da censura e a condição dos escritores em estados com uma burocracia kafkiana. O segundo narra a sua nova vida nos EUA e a tentativa não menos difícil de criar um jornal russo em Nova Iorque, o umbigo da liberdade e do capitalismo.

 

O TANGO DE SATANÁS | László Krasznahorkai
Tradução do húngaro Ernesto Rodrigues | Prefácio Rogério Casanova

Prémio Man Booker International 2015


Um livro inexorável e visionário de um mestre húngaro do apocalipse. | Susan Sontag

Intenso e instransigente. A universalidade da sua escrita rivaliza com a de Almas
Mortas, de Gógol. | W. G. Sebald

Um dos livros mais assombrosos de László Krasznahorkai. Uma obra ímpar na

literatura contemporânea. | New York Review of Books

 

N’O Tango de Satanás (1985), o primeiro livro do autor, uma pequena comunidade isolada e ao abandono na planície húngara, batida pelo vento e pela chuva incessante, confronta-se com o regresso do misterioso Irimiás – messias ou demónio, trapaceiro ou salvador da aldeia? – que se julgava morto e que dividirá para conquistar. Coreografia da desolação e doloroso livro sobre esperanças e fracassos, O Tango de Satanás é uma meditação sobre a morte e a avareza, a imperfeição e a crença, sobre as histórias que contamos para sobreviver e para iludir.

Inédito em Portugal, László Krasznahorkai (n.1954) é um dos maiores escritores contemporâneos, traduzido em várias línguas e vencedor do Prémio Man Booker International. Estudou Direito e Literatura em Budapeste e foi editor nos anos 80, antes de se dedicar exclusivamente à escrita. A sua obra visionária, formada por romances, ficção breve e argumentos cinematográficos, é um ambicioso projecto, profundamente influenciado por Kafka e Beckett, que reflecte sobre a condição do homem na pós-modernidade. Trocou a Hungria comunista por Berlim, em 1987, e viajou pelo Japão, pela China e pela Mongólia, nos anos 90, década em que viveu em Nova Iorque, na casa de Allen Ginsberg, que o terá aconselhado quando escrevia Guerra e Guerra. Da sua fértil colaboração com o cineasta Béla Tarr, resultaram várias adaptações cinematográficas (O Tango de Satanás e As Harmonias de Werckmeister) e o argumento original d’O Cavalo de Turim.

 

NOVEMBRO

O TACÃO DE FERRO | Jack London
Tradução Inês Dias | Prefácio Howard Zinn | Posfácio Léon Trotski

Uma notável profecia da ascensão do fascismo. | George Orwell

O Tacão de Ferro (1908) é uma das principais distopias do século xx e viria a influenciar 1984, de George Orwell. É, em suma, a história da ascensão ao poder de uma ditadura oligárquica e fascista – o Tacão de Ferro – nos EUA, que subjugará a nação. Em forma de manuscrito escrito por Avis Everhard, mulher do cabecilha da resistência, e encontrado ao fim de setecentos anos pelo historiador Anthony Meredith, conserva toda a sua relevância hoje em dia.
Esgotado há décadas em Portugal, O Tacão de Ferro, «clássico da revolta», é agora publicado numa nova tradução directamente do inglês e prefaciado por Howard Zinn.

 

GUERRACIVILÂNDIA EM MAU DECLÍNIO | George Saunders
Tradução Rogério Casanova

Depois de Pastoralia, em 2017, a Antígona edita o aclamado livro de estreia de George Saunders. Formado por seis contos e uma novela, publicados na New Yorker e na Harper’s, GuerraCivilândia em Mau Declínio (1996) tem por tema a desumanização do homem submetido a trabalhos absurdos, quer em parques temáticos distópicos quer em mecas do consumo, mares citadinos onde vogam empreendedores ultraliberais e se afundam subalternos: em suma, uma América decadente, sem bóias de salvação nem redenção. Num tom desesperado e hilariante, a brilhante estreia de George Saunders estará em breve finalmente disponível em português, numa edição que inclui uma nota do autor sobre a génese do livro.

 

NO NEVOEIRO E OUTROS CONTOS | Leonid Andreiev
Tradução Nina Guerra e Filipe Guerra

Quero que os homens empalideçam de pavor ao ler-me, que os meus textos ajam sobre eles como ópio, como um pesadelo, que os façam perder a razão…


Génio louco, ser revoltado e místico, Leonid Andreiev (1871-1919) é um dos autores mais importantes da literatura russa. Anticzarista e antibolchevique, homem de exílios frequentes, legou-nos uma obra monumental pautada pela indignação e pela paixão pela verdade. Intitulava-se um apóstolo da auto-aniquilação, e versou como ninguém o caos do mundo e a loucura e as tragédias do seu semelhante. A presente colectânea reúne os contos «No Nevoeiro», «O Governador», «Judas Iscariotes», «Os Fantasmas» e «As Trevas».
 

NÃO-FICÇÃO


SETEMBRO

A SOCIEDADE CONTRA O ESTADO | Pierre Clastres
Tradução Manuel de Freitas

Monumento incontornável do pensamento anarquista e antropológico, e a obra mais famosa de Pierre Clastres, A Sociedade contra o Estado (1974) reúne artigos escritos no seio de uma intensa convivência com tribos índias sul-americanas nos anos 60 e 70. Nestes estudos que inspiraram libertários de todo o mundo, tecem-se duras críticas ao etnocentrismo do Ocidente, desfazendo-se o mito de que a história tem um sentido único e de que qualquer sociedade está condenada a percorrer as etapas que vão da selvajaria à civilização. As povoações tropicais que Pierre Clastres observa não são apenas sociedades sem Estado, mas sociedades «contra o Estado»: nelas tudo se organiza de modo a impedir o nascimento de uma entidade exterior à comunidade; nelas se escarnece de quem deseja mandar e fazer obedecer; nelas não se dá ao chefe qualquer autoridade, mas somente um dever – o de usar a palavra para manter a paz. Uma brilhante análise e redefinição da natureza do poder e um dos grandes textos da antropologia política.

 

OUTUBRO

MODOS DE VER | John Berger
Tradução e posfácio Jorge Leandro Rosa

A obra mais famosa de John Berger, publicada originalmente em 1972, agora com uma nova tradução portuguesa. Um dos livros mais estimulantes e influentes da história da arte e um clássico baseado na série homónima da BBC, que influenciaria gerações de artistas e historiadores de arte, analisando a relação entre cultura e política.

ENTRETANTO | John Berger
Tradução e prefácio Júlio Henriques

Breve ensaio, lúcido e cristalino, sobre o mundo contemporâneo neoliberal e uma denúncia da forma como o poder transforma o planeta na prisão invisível em que todos nos movemos. Entretanto é uma reflexão sobre a crescente ausência de liberdade nas sociedades ocidentais, em que as aparentes cores da liberdade encerram o cinzentismo das tiranias. Um dos ensaios favoritos do próprio autor.

 

NOVEMBRO

AS BÊNÇÃOS DA CIVILIZAÇÃO (título prov.) | Mark Twain
Tradução Luís Leitão | Prefácio Fernando Gonçalves

Esmagámos um povo enganado e confiante; voltámo-nos contra os fracos e os desamparados que acreditavam em nós; apunhalámos um aliado pelas costas; roubámos a terra e a liberdade a um amigo crédulo; convidámos os nossos jovens impolutos a apontar um mosquete desacreditado e comportámo-nos como bandidos sob uma bandeira que os bandidos se tinham habituado a temer, e não a seguir; corrompemos a honra da América e envergonhámo-la perante o mundo.


Uma selecção que revela Mark Twain como o cronista da desonra americana, fiel a ideais pacifistas e anticolonialistas. Estes ferozes textos contra a guerra, o imperialismo e o racismo, escritos entre 1870 e 1908, abordam tanto infâmias dos EUA (Cuba arrancada aos Espanhóis, a segregação de chineses na Califórnia, o linchamento de negros no Sul) como as tiranias no globo. Uma denúncia de imperialismos hipócritas, com a perfurante ironia de Mark Twain, em linhas de uma assombrosa actualidade.

 


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